terça-feira, 4 de junho de 2013

Poema de Cesário Verde - Eu, que sou feio...



Eu, que sou feio...

Eu, que sou feio, sólido, leal,

A ti, que és bela, frágil, assustada,

Quero  estimar-te, sempre, recatada

Numa existência honesta, de cristal.



Sentado à mesa dum café devasso.

Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura.

Nesta Babel tão velha e corruptora,

Tive tenções de oferecer-te o braço.



E, quando socorreste um miserável,

Eu que bebia cálices de absinto,



Mandei ir a garrafa, porque sinto

Que me tornas prestante, bom, saudável.

 

«Ela aí vem!» disse eu para os demais;

E pus-me a olhar, vexado e suspirando,

O teu corpo que pulsa, alegre e brando,

Na frescura dos linhos matinais.



Via-te pela porta envidraçada;

E invejava, - talvez não o suspeites!-

Esse vestido simples, sem enfeites,

Nessa cintura tenra, imaculada.



Ia passando, a quatro, o patriarca.

Triste eu saí. Doía-me a cabeça.

Uma turba ruidosa, negra, espessa,


Voltava das exéquias dum monarca.



Adorável! Tu muito natural,

Seguias a pensar no teu bordado;

Avultava, num largo arborizado,

Uma estátua de rei num  pedestal.



                         Cesário Verde

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Aborto



O que é o aborto?
Um aborto ou interrupção da gravidez é expulsão prematura de um embrião ou feto do útero, decorrente da sua morte ou sendo esta causada. Isto pode ser espontâneo ou provocada, provocando assim o fim da gestação, pondo fim a actividade biológica do embrião ou feto, mediante do uso de medicamentos ou realização de cirurgias.

Tipos
O aborto geralmente é dividido em dois tipos, aborto espontâneo e aborto provocado. Outras classificações também são usadas, de acordo com o tempo de gestação.
Aborto espontâneo
Aborto espontâneo, involuntário ou casual, é a expulsão não intencional de um embrião ou feto antes de 20-22 semanas de idade gestacional. Uma gravidez que termina antes de 37 semanas de idade gestacional que resulta em um recém-nascido vivo é conhecida como parto prematuro ou pré-termo. Quando um feto morre no interior do útero após a viabilidade, ou durante o parto, geralmente é chamado de natimorto.
A causa mais comum de aborto espontâneo durante o primeiro trimestre são as anomalias cromossómicas do feto/embrião, que contabilizam pelo menos 50% das perdas gestacionais precoces. Outras causas incluem doenças vasculares, diabetes, problemas hormonais, infecções, anomalias uterinas e trauma acidental ou intencional. A idade materna avançada e a história prévia de abortos espontâneos são os dois factores mais associados com um risco maior de aborto espontâneo.
Aborto Provocado
O aborto provocado, ou interrupção voluntária da gravidez, é o aborto causado por uma acção humana. Ocorre pela ingestão de medicamentos ou por métodos mecânicos. A ética deste tipo de abortamento é fortemente contestada em muitos países do mundo mas é reconhecida como uma prática legal em outros locais do mundo, sendo inclusive em alguns totalmente coberta pelo sistema público de saúde. As razões desta discussão passam por definir quando o feto ou embrião se torna humano ou vivo (se na concepção, no nascimento ou em um ponto intermediário) e principalmente pelo direito da mulher grávida sobre o direito do feto ou embrião.
O aborto provocado possui as seguintes subcategorias:
  • Aborto terapêutico
    • aborto provocado para salvar a vida da gestante
    • para preservar a saúde física ou mental da mulher
    • para dar fim à gestação que resultaria numa criança com problemas congénitos que seriam fatais ou associados com enfermidades graves
    • para reduzir selectivamente o número de fetos para diminuir a possibilidade de riscos associados a gravidezes múltiplas.
  • Aborto electivo: aborto provocado por qualquer outra motivação.
Outras classificações
Quanto ao tempo de duração da gestação:
  • Aborto subclínico: abortamento que acontece antes de quatro semanas de gestação
  • Aborto precoce: entre quatro e doze semanas
  • Aborto tardio: após doze semanas
Segurança
Quando uma mulher pretende fazer um aborto provocado, tem que ter atenção aos riscos de saúde, estes dependem se o procedimento é realizado com segurança ou sem segurança. A Organização Mundial de Saúde define como abortos não-seguros aqueles realizados por pessoas sem competência , equipamentos perigosos ou em instituições sem higiene. Os abortos legais realizados nos países desenvolvidos estão entre os procedimentos mais seguros na medicina. Nos Estados Unidos, a taxa de mortalidade materna em abortos entre 1998 e 2005 foi de 0,6 morte por 100.000 procedimentos abortivos, tornando o aborto cerca de 14 vezes mais seguro do que o parto, cuja taxa de mortalidade é de 8,8 mortes por 100.000 nascidos vivos.
O risco de mortalidade relacionada ao aborto aumenta com a tempo de gestação, mas permanece menor do que o do parto até pelo menos 21 semanas de gestação. Isso contrasta com algumas leis presentes em vários países que exigem que os médicos informem aos pacientes que o aborto é um procedimento de alto risco.
A aspiração uterina a vácuo no primeiro trimestre é o método de aborto não-farmacológico mais seguro, e pode ser realizado em uma clínica de atenção primária em saúde, clínica de aborto ou hospital. As complicações são raras e podem incluir perfuração uterina, infecção pélvica e retenção dos produtos da concepção necessitando de um segundo procedimento para evacuá-los.
Existe controvérsia na comunidade médica e científica sobre os efeitos do aborto. As interrupções de gravidez feitas por médicos competentes são normalmente consideradas seguras para as mulheres, dependendo do tipo de cirurgia realizado. Entretanto, um argumento contrário ao aborto seria de que, para o feto, o aborto obviamente nunca seria "seguro", uma vez que provoca sua morte sem direito de defesa.
Os métodos que não são realizados com acompanhamento médico (uso de certas drogas, ervas, ou a inserção de objectos não cirúrgicos no útero) são potencialmente perigosos para a mulher, conduzindo-a a um elevado risco de infecção permanente ou mesmo à morte, quando comparado com os abortos feitos por pessoal médico qualificado. Segundo a ONU, pelo menos 70 mil mulheres perdem a vida anualmente em consequência de abortos realizados em condições inseguras, não há, no entanto, estatísticas confiáveis sobre o número total de abortos provocados realizados no mundo nos países e/ou situações em que o aborto é criminalizado.
Existem, com variado grau de probabilidade, possíveis efeitos negativos associados à prática abortiva, nomeadamente a hipótese de ligação ao câncer de mama, a dor fetal, a síndroma após o aborto. Possíveis efeitos positivos incluem redução de riscos para a mãe e para o desenvolvimento da criança não desejada.